quarta-feira, 21 de julho de 2010

O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald



27 de Maio



"Assim vamos persistindo, como barcos contra a corrente, incessantemente levados de volta ao passado."



A trama de O Grande Gatsby pode resumir-se de forma muito simplista e , por isso, redutora (daí ser imprescindível ler os livros e não os resumos, notas de rodapé ou comentários) à perseguição de um sonho - um idílio amoroso- por um homem (Gatsby), que ancorado ao passado, a um amor que a memória sublimou, quer, agora, pela ascenção social entretanto granjeada, reatar.

Gatsby exerce um fascínio particular na sociedade de Long Island, que atraída pelo brilho das festas oferecidas na sua mansão, soberba dirão uns, algo kitsch dirão outros, acorre em bandos ávidos de projecção social, embora pouco saibam quem é , afinal, o anfitrião.

Estamos perante a crítica à sociedade fútil e oca dos 'roaring twenties'; à vida mundana da aparência e dos códigos sociais que se sobrepõem ao amor, à justiça e à nobreza de carácter; à frieza com que a burguesia endinheirada despreza esses ideais em troca da comodidade e do luxo que os dólares compram.

A voz crítica mais audível na obra é a do narrador - Nick Carraway, que ao ir viver para a casa vizinha da mansão de Gatsby vê os seus planos - « tinha a sublime intenção de ler muitos outros livros mais (...) e o que eu ia fazer agora era reintroduzir todos esses velhos hábitos na minha vida, convertendo-me de novo no mais limitado dos especialistas, o 'homem esclarecido'» - interrompidos.

Aproveita ainda o impulso filosófico para reforçar que «não é mero epigrama - ao fim e ao cabo, somos muito melhor sucedidos quando vemos a vida de uma única janela.»


Contudo, nós, leitores convictos, não comungamos literalmente desta perspectiva (embora saibamos que descontextualizá-la seja injusto), por isso, continuamos, paulatinamente, a projectar leituras para não ficarmos confinados à nossa única janela.


Assim, recomendamos, muito, esta obra de traços autobiográficos de Scott Fitzgerald para que se possa subir «acima das árvores (...) e uma vez lá em cima, mamar da teta da vida, bebendo de um trago o incomparável leite do prodígio (..)»



CHEERS!