segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Próximo 'capítulo':
o realismo mágico de G.G. Márquez



terça-feira, 6 de outubro de 2009

Saramago por Umberto Eco

Registamos, abaixo, o link para o jornal El País, remetido por um dos membros do clube ( André, obrigada), onde poderá ler o artigo de opinião de Eco sobre o 'nosso' Nobel da literatura.
É verdade que exige um certo esforço de tradução, mas presumimos que para a maioria dos leitores raianos, e não só, seja acessível. De qualquer forma, em caso de dúvida sobre alguma expressão, disponibilizamo-nos para tradução livre... muito livre.
Poderá, ainda, ler os comentários dos leitores espanhóis e descobrir o grau de
anti/ simpatia que Saramago (e também Eco) desperta(m) em 'nuestros hermanos'!
Enfim... a minha avó dizia: 'De Espanha nem bom vento, nem bom casamento!'
Saramago discordará, por certo... Afinal, por mais fortes que soprem os ventos, em Espanha encontrou Pilar onde se acoitar!



Boas Leituras!


http://www.elpais.com/articulo/opinion/bloguero/llamado/Saramago/elpepiopi/20091006elpepiopi_11/Tes

domingo, 27 de setembro de 2009


21 de Setembro –
O Conde d’Abranhos



Uma ‘rentrée’ nunca vem só!

Na véspera do Outono, uma semana após o início das aulas e a meio da campanha eleitoral, também nós regressámos às leituras, esmiuçando (sim, confessamos que a maioria dos membros do nosso ‘nano micro mini’ clube de leitura decidiram o sentido do voto consoante a prestação dos diferentes candidatos no programa que os ‘Gato Fedorento’ apresentam, diariamente, na SIC) O Conde d’Abranhos, obra capital de Eça de Queiroz no que ao uso da ironia e da sátira concerne.

Juramos que não foi intencional esta escolha literária, pois quando decidimos ler “a mais contundente crítica romanceada (?) da intriga política constitucional” (J.Saraiva e O. Lopes) nada fazia supor que tal só acontecesse agora, nos pós ‘silly-season’ eleitoral. O nosso primeiro post prova a nossa inocência!

Como estamos a publicar estas linhas no dia de todas as reflexões, não iremos para além da análise da obra em causa e qualquer paralelismo com a actualidade política será mera coincidência!

Não podemos ler O Conde d’Abranhos sem ter em conta que o mesmo é, em primeira instância, uma paródia a um género ‘clássico’ – o panegírico
[1]. Como tal, a biografia de Alípio Abranhos é-nos relatada pelo seu secretário – Z. Zagalo – narrador de dupla-face: aparentemente, o admirador embevecido e incondicional do Conde; essencialmente, a voz subtil da crítica à sua falta de carácter, personificando assim o ‘carrasco’ mavioso, tal como o entende João de Barros (ver nota de rodapé).

E eis que temos um Alípio oriundo de famílias humildes, instruído em Coimbra graças à fortuna da madrinha abonada, mas que renega as origens, envergonhado da rudeza dos modos paternos face aos tiques requintados da burguesia de quem, por força da ambição política, se torna conviva assíduo. Consegue com essa intimidade a conveniência de um casamento que lhe dá título e reconhecimento social e, apoiado pelas novas e influentes amizades, inicia um percurso que o levará ao poder.


Porque é no ‘circo político’ que o Conde mais se destaca, deixemos o rol de exemplos que Zagalo nos concede sobre a sua conduta (i)moral, para citarmos os momentos mais elucidativos quanto à sua ética:

- sobre o povo: «porque se há-de combater um monstro invencível, quando é tão simples iludi-lo»

- sobre a arte de ‘iludi-lo’ I: «Tal é a tradição humana, doce, civilizada, hábil, que faz com que se possa tiranizar um país com o aplauso do cidadão e em nome da Liberdade!»

- sobre a arte de ‘iludi-lo’ II: «Não podemos dar ao operário o pão da terra, mas obrigando-o a cultivar a fé, preparamos-lhe no céu banquetes de Luz e de Bem-aventurança!»

- sobre a arte de ‘iludi-lo’ III: «Eu, que sou governo, fraco mas hábil, dou aparentemente soberania ao Povo, que é forte e simples. Mas, como a falta de educação o mantém na imbecilidade e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito. E quanto ao seu proveito…adeus, ò compadre!»

E, de facto, o ‘nosso’ Alípio Abranhos chega ao poder, embora ‘virando a casaca’, ou seja, mudando de partido, porque isso lhe permitia trotar para Belém, «repoltreando-se nas almofadas do poder!» Não hesitou em «passar-se com as suas armas da eloquência e a sua bagagem de saber para o campo inimigo. Ia fazer-se oposição!»

Explica-nos Zagalo que muito injustamente a «este grande acto político foi chamado uma indecente traição. Nada mais absurdo. Pergunto eu: que é trair? É abandonar os ideais de que se serviram, e passar, sem razão, para os ideais opostos que até aí se combatiam. (…) Mas havia entre os Reformadores e os Nacionais ideias opostos?»

E o que se segue é a mais divertida lista de argumentos que tentam provar que não havia nem em Religião, nem em Moral, nem em Economia Política, nem em Administração, nem em Pedagogia qualquer diferença entre um e outro partido!

Afinal, e como um dos nossos membros frisou, não é de hoje que os partidos políticos são ‘uma pequena família incestuosa’!

O mais notável é que Alípio Abranhos conseguiu tornar-se ministro, embora tivesse sido, e segundo o seu fiel (?) secretário, um «avaro intelectual» por nunca ter exteriorizado as muitas ideias que, com certeza, tinha!

Após a troca de impressões sobre o magistral uso da ironia que Eça faz neste seu romance e das inevitáveis referências a outras obras suas, ficámos a tentar descortinar nos diferentes candidatos a PM os mais parecidos com Abranhos, mas não conseguimos decidir-nos. Não é que ficámos com a impressão de que Zagalo estava certo quanto a não haver diferenças entre o partido que governa e os partidos que se lhe opõem?!

E agora calamo-nos e prudentemente vamos reflectir, porque amanhã assinamos em X.

O ProjectoLer recuperará o Direito de Antena em Outubro!


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[1] Palavra derivada do grego, cujo sentido geral é o dum discurso, em prosa ou verso, em louvor duma pessoa, acontecimento, lugar ou objecto. Desde a Grécia antiga, e sem interrupção até ao declínio da retórica no século XIX, o panegírico foi o mais puro expoente da oratória epidíctica ou demonstrativa. A função do panegírico foi sempre política. O objectivo era estimular nos ouvintes ou leitores o desejo de emulação das virtudes louvadas no discurso. Isto cumpria-se geralmente, colocando perante o receptor uma imagem ideal dele mesmo. Toda a ênfase do panegírico recaía sobre os valores que estavam supostamente na base da prática governativa da pessoa em causa. Por isso, João de Barros, um dos mais importantes panegiristas portugueses, sugeria que a eloquência laudativa se dirigia em geral aos homens que não mereciam louvor. É que os tiranos, detentores discricionários do poder, não podiam ser censurados ou criticados frontalmente, não apenas por causa das consequências nefastas daí resultantes para as pessoas dos autores, mas também porque isso não traria efeitos positivos sobre o curso da governação.

ALVES, Hélio, s.v. "Panegírico", E-Dicionário de Termos Literários, coord. de Carlos Ceia, ISBN: 989-20-0088-9, (Setembro 2009).

domingo, 2 de agosto de 2009

Ainda a propósito de LISTAS...




Desta feita , a lista dos 'Cem melhores livros' de sempre , segundo a "Newsweek".


Citando a nossa fonte, o jornal "Expresso" de 4 de Julho, a lista terá sido elaborada da seguinte forma:


« Começámos por seleccionar 10 listas diferentes dos melhores livros que julgamos representar uma mistura ecléctica dos gostos dos leitores e não apenas uma lista limitada dos Grandes Livros do Mundo Ocidental. Para ser considerada, a lista tinha que ser de livros escritos em inglês ou traduzidos para inglês. As listas que seleccionámos vão desde as muito eruditas (a do St. John's College) às muito mais acessíveis (o Clube de Livros de Oprah e os livros mais vendidos da Wikipédia).»


O processo implicou a criação de uma base de dados , onde as diferentes listas foram cruzadas e cada livro pontuado individualmente, pelo que o livro com maior pontuação ocupa o número um da lista e assim sucessivamente , até ao centésimo.



Repara o "Expresso", e bem, que «as listas dos 'melhores' livros de sempre são como as sondagens: valem o que valem. No top-100 da "Newsweek", à subjectividade que qualquer escolha deste tipo sempre acarreta, juntam-se dois factores que lhe limitam o alcance e a utilidade: a desproporção de referências literárias anglófonas (81% dos títulos), que remete o resto do mundo a uma injustíssima quase inexistência, e o facto de alguns autores estarem representados por dois ou três livros. Para um europeu é incompreensível que estejam ausentes nomes como os de Camões, Cervantes, Balzac, Eça de Queirós, Oscar Wilde, Pirandello, Pessoa, Camus, Beckett, Calvino, Yasunari Kawabata, Elias Canetti, Julio Cortázar, J.M. Coetze, Orhan Pamuk....»



Nós reiteramos o valor relativo deste tipo de listas, mas respondemos 'sim' à pergunta com que o "Expresso" inicia este artigo: 'Já leu algum destes livros?'. E lemos o número dois da lista - 1984 de George Orwell, por coincidência também a segunda obra lida pelo 'clube'. Há mais uma dúzia de títulos que , provavelmente, serão futuros 'projectos' de leitura, mas só depois das merecidas 'férias' agostinhas.


O Clube cumpre a regra portuguesa de ir 'a banhos' em Agosto, mas sempre bem acompanhado com um dos cem melhores livros de sempre, ou outros quaisquer que partilharemos em futuros serões. Na calha, e como havia sido projectado numa longínqua 'lista' aqui publicada, está o nosso caríssimo Eça e o seu Conde de Abranhos.




BOAS LEITURAS E

BOAS FÉRIAS!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Eis o 'top-5' melhores singles de sempre , segundo o DJ Rob Gordon:




ALTA FIDELIDADE – Nick Hornby

4ª Sessão do Clube de Leitura






E… decidimos jantar!

ENTRADAS
- Alta Fidelidade é um romance ‘light’, mas não no sentido fútil a que o termo anglo-saxónico está associado. Digamos antes que é ‘light’ porque, sendo uma comédia, tem no humor a enzima essencial para facilitar a digestão, logo é aconselhável a quem está de dieta ou procura alimento refrescante, a condizer com a época estival.
Alguém referiu que esta obra de Hornby era a versão masculina do Diário de Bridget Jones. Outra coincidência entre os títulos é que ambos têm versão cinematográfica.
A seguir? Bem «a seguir anda-se muito depressa para tentar a parte do dia que nos fugiu, e muitas vezes sente-se a necessidade de (…) consumir alguma coisa sólida e suculenta que fique à superfícies do emaranhado de inutilidades que nos enche a cabeça.»
A seguir? Bem, a seguir vem o…

PRATO PRINICPAL – As relações entre homens e mulheres, na perspectiva de um ‘solteirão’ (nos anos 90 a carga negativa do termo já é menos vincada do que outrora, mas o rótulo ainda pesa, como Rob Gordon deixa transparecer nas suas dúvidas existenciais). A personagem relata em tom confessional a sua vida amorosa desde o começo da adolescência: as primeiras experiências com o sexo oposto, as confusões, interrogações, decepções, o pânico masculino de não se ser o melhor amante das sucessivas namoradas e a humilhação de se saber rejeitado:
«Sabem qual é a pior coisa quando somos rejeitados? A falta de controlo. Se eu pudesse controlar a altura e o modo de ser abandonado por alguém, as coisas não pareceriam assim tão más. Mas então, é evidente que não seria rejeição, pois não? Seria por consentimento mútuo».


No romance, parece haver a preocupação de desmistificar a ideia de que os homens agem apenas instintivamente e que são mais decididos do que as mulheres. Afinal, eles também têm dúvidas e inseguranças e ‘até’ (sim, é uma mulher que está a redigir estas linhas) analisam as relações e suas implicações:


«Sentia falta de quê? Talvez sentisse falta de alguém (…) desviando-se do seu caminho para vir ter comigo, talvez um pouco arranjada, ou com um pouco mais de maquilhagem do que de costume, talvez mesmo ligeiramente nervosa; quando era mais novo, o facto de saber que era responsável por isso (…) fazia-me sentir pateticamente grato. Quando se está com alguém permanentemente, não se tem isso (…)»


Aqui abre-se espaço para a eterna discussão entre as antagónicas perspectivas masculina e feminina sobre as relações e os motivos que levam homens e mulheres a iniciá-las, mantê-las ou terminá-las:

«via que ela estava a perder o interesse que tinha por mim, por isso esforcei-me como um doido para recuperar esse interesse, e quando o recuperei, voltei a desinteressar-me »; «por outras palavras, sinto-me infeliz porque ela não me quer, se conseguir convencer-me que ela me quer um bocadinho, volto a ficar bem, porque então não a quero, e posso continuar à procura de outra pessoa».

Parece uma caricatura da atitude masculina comum… Será?!? (e vem-nos à memória a ‘teoria da triangulação’ do romance de Mário de Carvalho, anterior na nossa lista de leituras ‘projectadas’). A reforçar o teor algo narcísico das reflexões ‘deles’ em torno dos afectos, temos a seguinte tirada de Rob:

«Dez não é muito para um solteirão na casa dos trinta. Vinte também não é muito (…) Qualquer coisa acima de trinta, acho eu, já dá o direito de se aparecer no programa da Oprah sobre promiscuidade».



SOBREMESA -Música. Muita música.
Rob tem uma obsessão por ‘listas’. Ele e os seus dois amigos, que são também seus empregados na loja de discos de vinil quase falida (o que em parte se explica pelo facto dos dois empregados ‘correrem’ com os clientes, quando estes pedem discos ‘desajustados’, segundo a opinião sobranceira dos ‘experts’ de serviço), têm o estranho hábito de elaborar listas dos discos ‘top-5’ a propósito de tudo, pelo que muito da discografia dos anos 70/ 80 é revisitada, a par das relações falhadas de Rob. Aliás, para Rob a relação entre os discos e os ‘affairs of the heart’ é inextricável:

«não vale a pena fingir que qualquer relação pode ter futuro se as vossas colecções de discos são violentamente discordantes, ou se os vossos filmes preferidos nem sequer falariam uns com os outros se se encontrassem numa festa».

Ah, a denominação ‘Príncipe de Gales’ do doce que interrompeu a conversa sobre Rob e seus ‘dramas’ não é aleatória. Se quiserem saber qual é, perguntem ao Eduardo, o nosso ‘maitre’, mas adiantamos que está relacionada com aspectos do guarda-roupa de um certo príncipe.


DIGESTIVO – Depois de tanta ‘música’, parece que Rob descobre duas ou três verdades que revelam um certo equilíbrio entre a quantidade de gelo e de licor, pelo que deste copo tanto podem beber os ‘Robs’ como as ‘Lauras’:

«Concordo que é preciso conhecer uma pessoa nova para passar sem a antiga – é preciso ser incrivelmente corajoso e adulto para arrumar uma coisa só por ela não estar a funcionar bem».

E é também para ‘eles’ e ‘elas, mas sobretudo para ‘eles’, a dica sobre como conseguir atrair as mulheres, mesmo quando desprovidos de encantos especiais:

«Porque eu faço perguntas (…) Ainda há por aí bastantes egomaníacos à antiga, opiniosos e cheios de garganta para fazer uma pessoa como eu parecer agradavelmente diferente.»


CHEERS!

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Nota bibliográfica:
HORNBY, Nick (1997). Alta Fidelidade. Lisboa: Editorial Teorema.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

«Quando há autores como Mário de Carvalho, não se percebe porque se bipolariza a literatura nacional entre Lobo Antunes e Saramago» (autor desconhecido)


«Fantasia não é exactamente uma fuga da realidade.
É um modo de entendê-la.»
Loyd Alexander

Lá estivemos, pela terceira vez, na nossa mesa favorita do ‘Fronteiro-Mor’ e sob as atenções do nosso anfitrião, o sempre amável Eduardo, a degustar o prazer sentido na leitura de Fantasia para Dois Coronéis e uma Piscina de Mário de Carvalho.
Por norma, não é para nós – pequeno grupo de leitores que desde Março vem projectando ler – importante ter o autor como referência, nem a sua intenção como alvo das nossas asserções, no entanto, MdC merece-nos um parêntesis.
Primeiro, porque não sendo um neófito (publicou a primeira obra em 1981), só agora, e algo timidamente, começa a ser reconhecido e distinguido
[1] pelo seu talento ou, nas palavras do autor, pelo seu «trabalho de minuciosa lavra, em traiçoeira brenha», reconhecimento, quanto a nós, merecidíssimo.
Segundo, porque se deu ao trabalho de colocar as personagens desta fantasia num cenário fictício (S. Jorge do Alardo), mas de matriz alentejana e tão próximo que até situa o dito lugar no Concelho de Moura. Como leitores de Moura, ou pelo menos em Moura, esse detalhe não podia deixar-nos indiferentes.
Terceiro, e mais importante, porque é um ficcionista preocupado com o uso da língua nacional, a qual se percebe que domina, e que não se poupa a trabalhos para encontrar a «palavra certa», naquele que nos parece ser o exercício fundador de qualquer obra literária, e isso é cada vez mais raro.
Resumidamente, os dois coronéis que dão título à obra, de apelidos Bernardes e Lencastre, passam os seus dias de bem remunerada reforma nos respectivos montes alentejanos, a «taramelar» à beira da piscina que «destoa azulínea, e sobressalta, com a transparência, modernaça (…) espécie de olho-de-boi, desnaturado na paisagem» e que, curiosamente, ninguém usa, onde ninguém mergulha. Aspecto que suscita a todos um sorriso cúmplice, pois reconhecemos nos coronéis os tiques de uma certa ‘elite’ urbana em demanda da paz e sossego do Alentejo, algo muito em moda no final dos anos noventa.
Pelo romance desfila um conjunto de personagens que servem ao propósito satírico do autor, como é o caso do jovem Emanuel Elói (espécie de herói pícaro, a lembrar a personagem camiliana de Queda de um Anjo), que percorre o país a fazer demonstrações de xadrez, o que lhe proporciona encontros singulares como esse em Grudemil, com um cacique local «presidente do clube da bola, vereador da câmara, sócio honorário dos bombeiros, tem uma padaria, uma fábrica de louça, três oficinas, (…) duas casa de alterne, um bar e um bordel clandestino (…) total e absolutamente isento de impostos (…)», logo «já tem condições para se meter a sério na política». Também ao tio de Emanuel o autor concede ‘direito de antena’, para que aquele possa explanar, qual voz solidária e defensora da virilidade máscula, a sua teoria da ‘triangulação’ (recomendamos aos homens que têm propensão para a militância activa da poligamia a leitura desta ‘teoria’, pois assim, ao menos, terão uma).
Em contraponto, e como estratégia autoral para subverter o diálogo crítico e antecipar-se ao coro ‘feminista’ que certamente protestaria pelo papel dominante das personagens masculinas e, sobretudo, pela exposição da fraqueza intelectual, anímica ou moral das mulheres que pontuam no romance, o narrador desta ‘fantasia’ entrevista as mulheres dos coronéis, abrindo espaço para que elas mostrem aquilo que a possível inépcia misógina do narrador/ autor escamoteou. O diálogo com a personagem Maria das Dores é acutilante e recomenda-se, até porque é também um artifício típico do romance metaficcional, ou seja, do romance que se auto-analisa, que reflecte sobre os paradigmas do género e que procura sinalizar ao leitor que está perante um dado da imaginação, logo da fantasia de um autor.
Afinal, e como MdC reitera no seu último romance (A Sala Magenta), «procurar moldes da vida real para acontecimentos e personagens é ter em má conta a imaginação do autor». De um autor, cujas fantasias revelam a luta corpo a corpo com o código linguístico, a medida exacta nas palavras, já que nenhuma está a mais ou parece faltar, e o imenso prazer de contar histórias, que só encontra par no deleite com que o leitor as lê.


Nota: Em 2007, Mário de Carvalho escrevia o seguinte na revista Egoísta: «De todas as práticas artísticas a literatura é a mais vulnerável, porque muita gente se sente capaz não só de apreciá-la e comentá-la, como de praticá-la (…) Ninguém se inibe de avaliar um livro, mesmo não tendo lido; todos exibem muito à-vontade, as opiniões que acautelariam em se tratando de arquitectura, de pintura ou música; e correm torrentes de praticantes, ávidos de mostrar afectos tormentosos, arroubos poéticos e peculiaridades vivenciais (…) E lá virão mais declarações, mais opiniões….»
Depois disto, e em nossa defesa, resta-nos afiançar que lemos o livro e se melhor não acautelámos as nossas opiniões, foi porque não o conseguimos fazer. Só não prometemos ficar por aqui nas nossas declarações…
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[1] O romance histórico de 1994, Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde, é a sua obra mais premiada: Prémio de Romance e Novela APE/IPLB; Prémio Fernando Namora; Prémio Pégaso de Literatura e Prémio Literário Giuseppe Acerbi. Também o romance que nos reuniu dia 2 de Junho, Fantasia para Dois Coronéis e uma Piscina (2003), foi alvo do Prémio PEN Clube Português Ficção e do Grande Prémio de Literatura.
O autor foi galardoado, este mês, com o Prémio Vergílio Ferreira/ Consagração atribuído pela Universidade de Évora e pela Câmara Municipal de Gouveia.

Nota bibliográfica para as citações transcritas: CARVALHO, Mário de (2004).Fantasia para Dois Coronéis e uma Piscina. 3ª edição. Lisboa: Editorail Caminho.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Big Brother is watching you’



- 2ª Sessão do grupo de leitura PROJECTOLER –

Porque no ‘principio era o verbo’, iniciámos a segunda sessão destes nossos encontros para café com livros em amena cavaqueira sobre a nova tendência de viajar: o ‘couchsurfing’. Em síntese, ‘couchsurfing’ designa a procura, na Internet, de um anfitrião generoso que ceda o sofá da sala para que o viajante possa pernoitar. Afirma quem já experimentou que é a forma mais espontânea e genuína (e, já agora, mais barata) de conhecer os hábitos e as rotinas dos povos visitados.

‘So far so good’, que é como quem diz, até aqui tudo bem, mas e Orwell? Era o autor de Mil Novecentos e Oitenta e Quatro um ‘couchsurfer’? Se o termo à época já fosse corrente, talvez, mas o verdadeiro ponto de encontro da obra de Orwell com o tal conceito de viagem agora em voga está no elemento tecnológico que partilham – a rede.

Efectivamente, um dos aspectos mais intrigantes da obra sob auscultação é o seu poder premonitório, uma vez que antecipou, em cerca de cinquenta anos, um cenário tão assustador quanto real – a constante ‘fiscalização’ dos actos mais banais de cada cidadão. Em nome de uma aparente segurança, cada um de nós vê a sua rotina constantemente vigiada e a sua privacidade ameaçada, quando abastece o carro nas estações de serviço; quando passa na portagem da auto-estrada; quando se dirige a qualquer instituição bancária; ao utilizar o cartão de crédito; ao admirar a montra de uma ourivesaria; ao deambular pelos recantos dos centros comerciais; nos aeroportos; nos bares, discotecas e demais locais de diversão nocturna, enfim, é quase impossível escapar à sentença Orwelliana do ‘Big Brother is watching you’.

Também na obra de Orwell tal vigilância se processa em nome da segurança, desta feita, da segurança de um certo statu quo, logo de uma determinada ideologia. Mil Novecentos e Oitenta e Quatro surge como crítica ao estalinismo, e embora o regime se tenha desvanecido, a obra em causa continua actual, pois a electrónica invadiu as nossas vidas e submete-nos a uma ‘supervisão’ tão invasiva, que sem dificuldade conseguimos transpor a crítica aos regimes totalitários da época para a aparente democracia que o liberalismo e a ideia de globalização encerram.

O romance de Orwell põe em causa todo um sistema ideológico, indiferentemente se de esquerda ou de direita, pois qualquer regime que concentre numa elite o poder de decidir, organizar e manipular a verdade (na obra até a própria ‘verdade histórica’ se torna figura de estilo, porque os dados, estatísticos ou outros, são revistos e substituídos por aqueles que melhor se ajustem aos propósitos de doutrinação do partido no poder) revela-se, na sua essência, totalitário, desumano e mercenário, ao ponto de inscrever na fachada do suposto Ministério da Verdade o lema:

«GUERRA É PAZ
LIBERDADE É ESCRAVIDÃO
IGNORÂNCIA É FORÇA» (p.32)

Paradoxal?
Sim. E aterrador para aqueles que decidam pensar por conta própria, incorrendo no ‘crimepensar’ que a Polícia do Pensamento’ tratará de «varrer da existência e da memória» (p.33), como acontece à personagem principal da obra, que no seu diário datado de 1984 evoca a nostalgia de um tempo «em que o pensamento seja livre, em que os homens sejam diferentes uns dos outros e não vivam sozinhos – a um tempo em que a verdade exista e o que for feito não possa ser desfeito», para concluir que nos saúda «da era da uniformidade, da era da solidão, da era do Grande Irmão, da era do duplopensar» (p.33)

Ao lermos isto, pareceu-me que todos nós – leitores de Orwell de dia 5 de Maio de 2009 – nos inquietámos pela semelhança desse tempo virtual com o tempo real, e com a possibilidade de dizermos como a personagem do romance: «Nada nos pertencia, excepto os poucos centímetros cúbicos dentro da nossa cabeça» (p.32). Os mesmos que o ‘partido’ quer à força invadir, conquistar, tomar para si, porque o «poder autêntico (…) não é o poder sobre as coisas, mas sobre os homens»:


«Como é que um homem afirma o seu poder sobre outro homem?
- Fazendo-o sofrer –
- Exactamente. Fazendo-o sofrer. A obediência não basta. A menos que sofra, como posso eu ter a certeza de que obedeceu à minha vontade e não à dele?» (p.267)

Arrepia de tão crua e lúcida a resposta.

Num compasso de espera para retomarmos a discussão e na sequência das ideias trocadas, um dos presentes partilhou com os restantes a sua memória de uma viagem à China, evocando a Praça de Tianamen e a visita guiada, espécie de peregrinação, ao mausoléu do ‘Grande Timoneiro’. Relatou-nos então que, enquanto esperavam pela vez para a tal visita, a assaltou a curiosidade sobre os detalhes do massacre dos estudantes, ali ocorrido em 1989. Após alguma insistência, o guia, jovem ainda, murmurou que naquele lugar era ‘perigoso’ mencionar nomes e factos alusivos a tal acontecimento. Obviamente, o espírito do ‘Big Brother’* emergiu de novo.


Depois deste testemunho ilustrativo de como realidade e ficção dialogam intimamente, rematámos a discussão corroborando Orwell: «os livros melhores são justamente os que nos dizem aquilo que já sabemos». (p. 203)
Uma nota final a remeter para o trabalho curioso do autor sobre os ‘princípios da Novilíngua’, a língua oficial do Socing (a nova forma de socialismo descrita no romance), cunhando termos como ‘bompensar’; minipax; ‘campalegre’; ‘ventressentir’; ‘infrio’, cujo significado não é tão evidente quanto pode parecer, mas que não revelamos para que procure esta obra fundamental e com estas ou outras coordenadas, avalie a viabilidade das previsões de Orwell para 2050.


Boas Leituras!

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*No dia em que este texto foi redigido, ao averiguar o que havia sucedido em 1989, na Praça de Tianamen (Paz Celestial), não é que ao tentar visualizar, na Internet, o primeiro site sugerido, este está ‘barrado’!?! Ele há ou não há coincidências?!

Nota bibliográfica: ORWELL, George. Mil Novecentos e Quatro. Lisboa: Antígona. 2007.

quinta-feira, 23 de abril de 2009


23 de Abril
- DIA MUNDIAL DO LIVRO -


O ProjectoLer associa-se às comemorações do Dia Mundial do Livro, lembrando que a melhor forma de celebrar o livro é lê-lo.

Assim, e tal como anteriormente agendado, sugerimos a leitura da obra de George Orwell - Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, e convidamos aqueles que aceitarem a nossa sugestão a quebrar a rotina do serão televisivo, trocando-o por um café com palavras.

Na semana em que se faz o balanço de trinta e cinco anos de democracia em Portugal e se preparam os discursos do 1º de Maio, parece-nos ainda mais oportuno reflectir sobre o conceito 'Big Brother is watching you', a sua vulgarização na nossa sociedade e a constante fiscalização dos gestos mais banais do nosso quotidiano.


Até 4ª feira, quando brindaremos 'ao futuro ou ao passado, a um tempo em que o pensamento seja livre, em que os homens sejam diferentes uns dos outros e não vivam sozinhos' (George Orwell).




sexta-feira, 10 de abril de 2009


A PÁSCOA REVISITADA POR SARAMAGO

Aconteceu, finalmente, e depois de sucessivos adiamentos, a primeira sessão do PROJECTOLER. Tal como havia sido ‘projectado’, trocaram-se leituras em torno da obra Ensaio sobre a Cegueira[1], de José Saramago. A escolha deste autor para a sessão inaugural de um ‘momento’ que se deseja partilhado, participado e repetido, resulta de um conjunto de evidências que só por mero exercício tautológico se enumeram: o fôlego humanista, logo universal, da escrita de Saramago, que lhe permitiu não só ser um nome maior das nossas letras, mas também nas letras de outras latitudes; a peculiaridade desse fôlego se traduzir em imagens que despertam a consciência do leitor, acordando-o dessa espécie de dormência a que o cumprimento dos rituais socialmente impostos conduz e, como consequência, a interrogação constante dos ‘mitos’ fundadores da nossa humanidade – a compaixão, a generosidade, a verdade e, claro, o seu inverso.
Ensaio sobre a Cegueira ilustra tudo isto de forma intensa, por vezes crua, quando, por exemplo, nos impõe a imagem violentíssima de um cadáver humano a ser devorado por uma matilha de cães; ou sempre que nos obriga ao sabor agridoce das metáforas que ocupam filosoficamente o homem, o de hoje como o de ontem:
“Com o passar dos tempos (…) acabámos por meter a consciência na cor do sangue e no sal das lágrimas (…) fizemos dos olhos uma espécie de espelhos virados para dentro, com o resultado, muitas vezes, de mostrarem eles sem reserva o que estávamos tratando de negar com a boca.” (op.cit.p.26)

Lembrando a velha máxima que advoga ser possível pelos olhos chegar à alma, o romance, anunciado ensaio sobre um “mal branco” contagioso, assemelha-se, na opinião de alguns dos leitores presentes, ao testemunho de uma caminhada expiatória da humanidade, no sentido cristão do termo: a humanidade, pecadora porque arrogante, ambiciosa e cada vez mais distante dos valores éticos e morais idealmente orientadores das práticas sociais, é submetida a uma cegueira semelhante a um denso nevoeiro, que obrigará os seres humanos a uma espécie de via sacra, conducente a um calvário crescente de impotência, insegurança e medo. Confinados a um ‘purgatório’ onde são sujeitos à humilhação, à depravação e à mais abjecta convivência entre pares, confrontam-se com a dualidade que os caracteriza – ora capazes dos maiores rasgos de generosidade, ora de matar um seu semelhante – para concluírem que só cegando vêem, de facto, quem são, o que são.
Terá tal caminhada sido redentora?
Fazendo eco da dúvida das personagens, também nós perguntámos:

“ Por que foi que cegámos, Não sei, talvez uma dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêm.” (op.cit.p.310)

Termina, assim, a obra em causa, deixando a pergunta essencial sem uma resposta conclusiva, instigando-nos a cumprirmos o conselho inscrito em epígrafe – “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”
A propósito de uma possível ‘moral da história’, alguém destacou a seguinte passagem de Ensaio sobre a Cegueira como a imagem súmula da mesma: “a mancha negra do sangue, e outra pequena tocando-a, branca, do leite que se entornara” (op.cit.pp.91/ 92). O sangue, negro, vindo das entranhas do homem, representaria o instinto, a face mais oculta e interior do ser humano, e aqueloutra mancha, embora mais pequena, mas de uma alvura comparável à da cegueira que atacou a humanidade, acaba por tocar a negrura espessa do sangue e iluminá-lo, dotando-o da luz e da razão que lhe faltavam, permitindo ao homem, então, alcançar a verdade e libertar-se das duas cegueiras – a da alma (velada, oculta) e a dos olhos (agora mais nitidamente os tais “espelhos virados para dentro”) que revelou a primeira ao acender uma luz na escuridão.
Esta impressão, que todos os que vemos temos, quanto ao breu em que vivem os cegos é revogada pelo testemunho de um outro autor – Jorge Luís Borges – ‘convidado’ por um dos leitores presentes que, amavelmente, nos traduziu o seguinte excerto do texto “La ceguera”:


Uno de los colores que los ciegos (o en todo o caso este ciego) extrañan es el negro; outro, el rojo (…) me molestó durante mucho tiempo tener que dormir en este mundo de neblina, de neblina verdosa o azulada y vagamente luminosa que es el mundo del ciego (…) El mundo del ciego no es la noche que la gente supone (…)”[2]

Noutro âmbito da discussão sobre este ‘ensaio’, alguém questionou o facto de ser uma mulher a única pessoa a não ter cegado. As opiniões dividiram-se. A ala mais ‘feminista’ frisou que, ao contrário de outros autores canónicos, Saramago não tem qualquer pudor em destacar as mulheres nos seus romances, tornando-as co-protagonistas, senão mesmo as verdadeiras heroínas, lembrando-se, a propósito, essa personagem quase ‘fantástica’ de Memorial do Convento – Blimunda.
Como exemplo contrastante, Eça de Queirós e a sua famigerada misoginia foram evocados, tendo este autor encontrado no nosso anfitrião o seu principal defensor e cuja intervenção foi tão oportuna, que está oficialmente convidado a integrar o ‘séquito’ do PROJECTOLER, como, aliás, estão todos os que gostarem de ler e de argumentar sobre a leitura, quer das obras seleccionadas, quer de outras e dos autores que, como se ilustrou, vão sendo convocados, pois, e de acordo com a vox populi, ‘as conversas são como as cerejas’ ou, numa versão mais adequada à época pascal, como as amêndoas.
Na agenda do PROJECTOLER, as próximas ‘amêndoas’ serão degustadas dia 29 de Abril, e o ‘cordeiro’ sacrificado será a obra 1984, de George Orwell.

Até lá, BOAS LEITURAS!


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[1] Saramago, José. Ensaio sobe a Cegueira. 12º edição. Lisboa: Caminho (para as citações transcritas)
[2] Acedido em http://profesorgarrocha.blogia.com

domingo, 1 de março de 2009

Alteração de 'Calendário' A indisponibilidade manifestada por alguns 'leitores' em estarem presentes naquela que seria a primeira sessão de troca de leituras sobre a obra de Saramago, Ensaio sobre a Cegueira, levou-nos a adiar a referida sessão para a próxima quarta-feira (dia 4).

Esta alteração implicará a mudança das datas previamente agendadas, da qual daremos conta, brevemente.

Até quarta e boas leituras!
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P.S.: E, já agora, seguindo a citação com que Saramago inaugura o seu 'ensaio', recomendamos:
«Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.»

O desafio é esse: 'reparar' nas palavras, nas imagens que elas traduzem.

Façamos um 'ensaio', o nosso, sobre o Ensaio, o dele.
Até breve!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Primeira obra


Propostas de leitura


18 de Fevereiro: Ensaio sobre a cegueira, José Saramago;

18 de Março: 1984, George Orwell;

22 de Abril: Fantasia para dois coronéis e uma piscina, Mário de Carvalho;

20 de Maio: Alta Fidelidade, Nick Hornby;

17 de Junho: O Conde D'Abranhos, Eça de Queirós;

Nota: Trata-se de meras sugestões, pelo que a escolha destes títulos está aberta a discussão.

O início


"A leitura faz do homem um ser completo;a conversa faz dele um ser preparado..."
Francis Bacon
Um Clube de Leitura:

O que é?
Conjunto de pessoas que, à boleia dos livros,
viaja pelas palavras dos outros à procura das suas.

A quem se destina?
A todos aqueles que gostam de ler e
de trocar ideias sobre livros.

O que se faz?
Basicamente, lê-se e conversa-se sobre o que se lê!
Por vezes, pousa-se a conversa e degustam-se as palavras
na companhia de um café ou daquilo que se entenda como inspirador!
O que se lê?
Até ao 1º encontro (18 de Fevereiro), a obra
Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago.

Onde?
Restaurante ‘Fronteiro-Mor’.

Quando?
Sugere-se um encontro por mês, às quartas-feiras, com início previsto às 21.30h.