sexta-feira, 24 de julho de 2009


ALTA FIDELIDADE – Nick Hornby

4ª Sessão do Clube de Leitura






E… decidimos jantar!

ENTRADAS
- Alta Fidelidade é um romance ‘light’, mas não no sentido fútil a que o termo anglo-saxónico está associado. Digamos antes que é ‘light’ porque, sendo uma comédia, tem no humor a enzima essencial para facilitar a digestão, logo é aconselhável a quem está de dieta ou procura alimento refrescante, a condizer com a época estival.
Alguém referiu que esta obra de Hornby era a versão masculina do Diário de Bridget Jones. Outra coincidência entre os títulos é que ambos têm versão cinematográfica.
A seguir? Bem «a seguir anda-se muito depressa para tentar a parte do dia que nos fugiu, e muitas vezes sente-se a necessidade de (…) consumir alguma coisa sólida e suculenta que fique à superfícies do emaranhado de inutilidades que nos enche a cabeça.»
A seguir? Bem, a seguir vem o…

PRATO PRINICPAL – As relações entre homens e mulheres, na perspectiva de um ‘solteirão’ (nos anos 90 a carga negativa do termo já é menos vincada do que outrora, mas o rótulo ainda pesa, como Rob Gordon deixa transparecer nas suas dúvidas existenciais). A personagem relata em tom confessional a sua vida amorosa desde o começo da adolescência: as primeiras experiências com o sexo oposto, as confusões, interrogações, decepções, o pânico masculino de não se ser o melhor amante das sucessivas namoradas e a humilhação de se saber rejeitado:
«Sabem qual é a pior coisa quando somos rejeitados? A falta de controlo. Se eu pudesse controlar a altura e o modo de ser abandonado por alguém, as coisas não pareceriam assim tão más. Mas então, é evidente que não seria rejeição, pois não? Seria por consentimento mútuo».


No romance, parece haver a preocupação de desmistificar a ideia de que os homens agem apenas instintivamente e que são mais decididos do que as mulheres. Afinal, eles também têm dúvidas e inseguranças e ‘até’ (sim, é uma mulher que está a redigir estas linhas) analisam as relações e suas implicações:


«Sentia falta de quê? Talvez sentisse falta de alguém (…) desviando-se do seu caminho para vir ter comigo, talvez um pouco arranjada, ou com um pouco mais de maquilhagem do que de costume, talvez mesmo ligeiramente nervosa; quando era mais novo, o facto de saber que era responsável por isso (…) fazia-me sentir pateticamente grato. Quando se está com alguém permanentemente, não se tem isso (…)»


Aqui abre-se espaço para a eterna discussão entre as antagónicas perspectivas masculina e feminina sobre as relações e os motivos que levam homens e mulheres a iniciá-las, mantê-las ou terminá-las:

«via que ela estava a perder o interesse que tinha por mim, por isso esforcei-me como um doido para recuperar esse interesse, e quando o recuperei, voltei a desinteressar-me »; «por outras palavras, sinto-me infeliz porque ela não me quer, se conseguir convencer-me que ela me quer um bocadinho, volto a ficar bem, porque então não a quero, e posso continuar à procura de outra pessoa».

Parece uma caricatura da atitude masculina comum… Será?!? (e vem-nos à memória a ‘teoria da triangulação’ do romance de Mário de Carvalho, anterior na nossa lista de leituras ‘projectadas’). A reforçar o teor algo narcísico das reflexões ‘deles’ em torno dos afectos, temos a seguinte tirada de Rob:

«Dez não é muito para um solteirão na casa dos trinta. Vinte também não é muito (…) Qualquer coisa acima de trinta, acho eu, já dá o direito de se aparecer no programa da Oprah sobre promiscuidade».



SOBREMESA -Música. Muita música.
Rob tem uma obsessão por ‘listas’. Ele e os seus dois amigos, que são também seus empregados na loja de discos de vinil quase falida (o que em parte se explica pelo facto dos dois empregados ‘correrem’ com os clientes, quando estes pedem discos ‘desajustados’, segundo a opinião sobranceira dos ‘experts’ de serviço), têm o estranho hábito de elaborar listas dos discos ‘top-5’ a propósito de tudo, pelo que muito da discografia dos anos 70/ 80 é revisitada, a par das relações falhadas de Rob. Aliás, para Rob a relação entre os discos e os ‘affairs of the heart’ é inextricável:

«não vale a pena fingir que qualquer relação pode ter futuro se as vossas colecções de discos são violentamente discordantes, ou se os vossos filmes preferidos nem sequer falariam uns com os outros se se encontrassem numa festa».

Ah, a denominação ‘Príncipe de Gales’ do doce que interrompeu a conversa sobre Rob e seus ‘dramas’ não é aleatória. Se quiserem saber qual é, perguntem ao Eduardo, o nosso ‘maitre’, mas adiantamos que está relacionada com aspectos do guarda-roupa de um certo príncipe.


DIGESTIVO – Depois de tanta ‘música’, parece que Rob descobre duas ou três verdades que revelam um certo equilíbrio entre a quantidade de gelo e de licor, pelo que deste copo tanto podem beber os ‘Robs’ como as ‘Lauras’:

«Concordo que é preciso conhecer uma pessoa nova para passar sem a antiga – é preciso ser incrivelmente corajoso e adulto para arrumar uma coisa só por ela não estar a funcionar bem».

E é também para ‘eles’ e ‘elas, mas sobretudo para ‘eles’, a dica sobre como conseguir atrair as mulheres, mesmo quando desprovidos de encantos especiais:

«Porque eu faço perguntas (…) Ainda há por aí bastantes egomaníacos à antiga, opiniosos e cheios de garganta para fazer uma pessoa como eu parecer agradavelmente diferente.»


CHEERS!

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Nota bibliográfica:
HORNBY, Nick (1997). Alta Fidelidade. Lisboa: Editorial Teorema.

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