domingo, 23 de maio de 2010

Os Cadernos Secretos do Prior do Crato, Urbano Tavares Rodrigues
24 de Março

Em Março, projectámos ler a mais recente obra de um escritor nosso conterrâneo que, apesar de celebrar o Alentejo em muitos dos seus textos, a ele não se restringe, como o evidencia a novela sobre a qual recaiu a nossa escolha literária para este mês. Referimo-nos a Urbano Tavares Rodrigues e à sua novela de 2007 - Os Cadernos Secretos do Prior do Crato. Nela, o autor ficciona em torno dos dados biográficos que recolheu sobre essa figura singular da nossa História - D. António, Prior do Crato, pelo qual revela um enorme fascínio.

«Creio que desde sempre me fascinou a rica e complexa personalidade do herói de tantas batalhas perdidas que foi D. António, prior do Crato, por dois anos efectivamente rei de Portugal (...) Não é apenas um cavaleiro sem temor e um diplomata em defesa da sua causa nas cortes de França e Inglaterra. É um homem perdido por mulheres, garboso, sensual, que dificilmente resiste à beleza de um olhar, à tentação de um corpo voluptuoso. Para mais, é um homem que pensa e sente, que tem a cultura de um humanista e as interrogações, os remordimentos de consciência de um ser sensível, de um crente que mandou o hábito às urtigas, escusando-se ainda jovem ao compromisso de celibato, mas sem resolver definitivamente o diálogo que, mesmo em meio das suas lascivas experiências, sempre manteve com Deus».

Eis o herói da novela, tal como o apresenta o autor no posfácio da mesma.

Confessamos que muito nos deleitou a leitura em registo autobiográfico da vida política, sentimental e religiosa do Prior do Crato, ainda que por razões aqui não cabem esmiuçar; e que foi um dos serões literários em que mais nos divertimos. Fosse pelo efeito da flute com que o nosso anfitrião ( obrigada Eduardo) faz acompanhar o doce predilecto da ala feminina do 'clube', fosse pela boa disposição que a prosa do Urbano Tavares Rodrigues causou, o que é certo é que terminámos um dia longo com um largo sorriso, embora alguém insistisse em citar a frase de abertura da obra: « A ninguém darei a ler este caderno, que comecei a escrever nem sei porquê».

Há obras assim... lêem-se nem sabemos porquê! Mas , aproveitando , de novo, a boleia do Prior do Crato juramos como ele que não voltaremos «a praticar os mesmos actos, quando de antemão sei que os repetirei com prazer».

Boas leituras, de preferência projectadas com prazer!

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